quarta-feira, 20 de maio de 2015

Crianças acusadas de feiticeiras, Cajiza


CRIANÇAS ACUSADAS DE FEITICEIRAS


Os fundamentos que levam os adultos a acusarem as crianças de feiticeiras têm muito a ver as atitudes que as mesmas demonstram no seu quotidiano, durante as interacções que vão trocando no meio familiar e comunitário. À uma determinada altura e devido a comportamentos normais de crianças como a inquietude, dispersão, indolência e agressividade os familiares vêem na peculiaridade da criança comportamentos distintos e tendem a associá-los a causa de males que a família vem a sofrer. E resultantes das acusações de práticas de feitiçaria, as crianças têm como atitude o sentimento de afastamento do
convívio familiar, recorrendo às ruas, procurando por outros grupos ou instituições onde possam se sentir a vontade. Surge aqui o papel das instituições de acolhimento que vêm a ser o último local de paragem destas. 
Desde cedo no seio das famílias onde estas são provenientes cultiva-se uma relação débil pois as crianças são marcadas com maus tratos desde gritos, "porradas" e ofensas morais. As acusações são mais frequentes em famílias extensas, recompostas e monoparentais, o que não retira a ideia de pensarmos que as nossas famílias promovem uma autêntica anomia e quanto a actividade destas famílias. 
As crianças não aceitam o rótulo de feiticeiras e, muitas vezes, só aceitam por sofrerem pressões ou ameaças dos adultos, ou seja, quando estas são forçadas pelos adultos. 
Acontece uma coacção e ela não tendo como aceita que é feiticeira evitando o pior. Estamos perante uma situação de falsa acusação, onde o indivíduo passa a ser visto como desviado pelo resto da comunidade mas que na verdade não é. 
As crianças acusadas de feiticeiras, por sua vez, vêm os seus acusadores como desviados. As crianças acusadas de feiticeiras retribuem o rótulo de desviados aos seus acusadores. É o duplo sentido do desvio. Elas chegam a criar um ressentimento pelos seus familiares e uma certa repulsa, pelo que já não sentem prazer em voltar para estas casas de onde saíram acusadas. 
Como resultado da estigmatização, de que as crianças são alvo, muitas delas procuram se associar a grupos ou instituições (como grupos de amigos de rua ou lares de acolhimento) a procura de um melhor acolhimento e tratamento.
 As crianças saem de casa a procura de um outro lar e o primeiro destes é a rua. Ela procura livrar-se deste lar que o oprime, no entanto, embora muitas saem logo e por si mesmas de casa as outras são tiradas pelos próprios familiares que no fim juntam-se às outras nas ruas ou nos Centros. 
De uma forma geral, as crianças, tanto as que saem por si só de casa como as que são tiradas pela família, acabam preferindo este novo lugar porque encontram um ambiente melhor que o das suas famílias. Bom, ainda bem que existem as Instituições de Acolhimento porque caso contrário a rua seria a única opção o que as deixaria completamente à margem da sociedade e, podendo mesmo fazerem carreiras de desviados, embora algumas fazem.

ESC

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